TRAJETÓRIA DA VITÓRIA E PERSPECTIVA PARA O FUTURO

A eleição presidencial de 2010 que terminou na última semana, felizmente com a vitória de Dilma Rousseff, foi uma disputa travada não, somente, no período de quatro meses da campanha eleitoral, foi o resultado da disputa entre dois projetos políticos, antagônicos, representados por PT e PSDB. Desde a eleição de FHC, em 1994, o Brasil passou por uma polarização política, que levou ao fortalecimento destes dois partidos e ao enfraquecimento das outras legendas, que se tornaram satélites, ou até mesmo foram engolidas pelas maiores.
Durante os oito anos do governo FHC/PSDB foi implantado um projeto neoliberal, privatista, de esvaziamento do estado brasileiro, que deixou as forças econômicas controlar a sociedade. O resultado disso foi uma ampliação das desigualdades entre os brasileiros. O PT foi o partido que conseguiu colocar-se como oposição a esse projeto, e que apresentou uma alternativa a este modelo, que pode ser implantada a partir da vitória de Lula em 2002. Durante seus quase oito anos de mandato, Lula/PT fez retroceder a política neoliberal de FHC. Manteve a base econômica da estabilização da moeda, mas redirecionou o esforço do Estado para dentro do país. Fortaleceu o mercado interno e diversificou as parcerias econômicas do Brasil. Isso possibilitou o aporte de novos recursos para o orçamento brasileiro, e o Governo Lula não hesitou em combater as desigualdades sociais. Programas de transferência de renda iniciaram a inclusão de uma significativa parcela da população na roda da economia, fortalecendo, ainda mais, o mercado interno, gerando empregos no país.
O final do Governo Lula se aproximou e sua sucessão tornou-se uma “encruzilhada” para o Brasil. Ou optava-se pela continuidade do projeto de inclusão social e de desenvolvimento nacional do Governo Lula, ou voltava-se para o plano neoliberal, de fortalecimento das forças econômicas do mercado. Essa foi à disputa travada neste período.
Sabidamente, o Presidente Lula antecipou a escolha do nome da sua sucessora, e indicou a Ministra Dilma, lançando o tal jogo plebiscitário. A oposição, com medo de competir com a popularidade de Lula, não lançou seu candidato antecipadamente, lançando um velho conhecido da população, José Serra, e optou por um suposto embate na comparação das biografias. A diferença entre as candidaturas Dilma e Serra, inicialmente, foi a de que Lula conseguiu unir, desde o início, os partidos da sua base aliada em torno do nome de Dilma, enquanto, a oposição partidária ao Governo Lula, representada pelo PSDB ficou dividida, pode se disser, até o primeiro turno das eleições.
Estabelecidas as candidaturas e iniciado o período eleitoral, a população tomou conhecimento da indicação de Lula, que transferiu incrivelmente uma grande parcela de sua popularidade para Dilma, que avançou nas pesquisas de intenção de voto. A oposição não se posicionava contra o Governo Lula, e não explicitava seu programa, nem defendia seu passado como governo, e só ia perdendo espaço no eleitorado. Nessa primeira fase da campanha Dilma nadou de braçada.
Ao perceber que a vitória de Dilma se concretizaria no primeiro turno, a oposição pautou a eleição não mais no campo programático nem nas biografias dos candidatos, mas direcionaram suas forças para uma campanha difamatória da candidata Dilma e de sua equipe. A grande mídia liderou esse processo, reproduzindo factóides ligados à religiosidade e a opção sexual de Dilma. Passou a atacar a competência de Dilma e criou uma rede de boataria que se iniciava na internet e era replicada pelos meios de comunicação. Foi uma campanha, reconhecidamente, classificada como suja, mas que conseguiu retirar de Dilma, no primeiro turno votos na quantidade suficiente para que a disputa fosse para o segundo turno. No entanto, não foi deslocada para a candidatura Serra, que representava a oposição, e sim para a “suposta” terceira via representada por Marina Silva.
No segundo turno, todo esse esforço de retirada de votos da candidatura Dilma regrediu, mostrando o quanto a população rejeita o modelo neoliberal representado pelo PSDB e sua candidatura, Serra. O favoritismo da candidatura Dilma confirmou-se, com a eleição de Dilma Rousseff com 56% dos votos válidos, sendo a segunda maior votação da história do Brasil, que elegeu sua primeira Presidenta.
A eleição de Dilma confirma a intenção da sociedade brasileira em avançar na pauta positiva do Governo Lula que indicava: soberania nacional, desenvolvimento econômico, distribuição de renda, inclusão social e liberdades políticas. E, ainda, trouxe um contexto favorável que é a futura configuração do Congresso Nacional, amplamente favorável a Presidenta Dilma, o que Lula não teve, tendo que negociar com os partidos e abrir mão de alguns importantes elementos de seu projeto. Neste ponto, Dilma poderá aprofundar essa pauta positiva, por herdar um país já no rumo das mudanças estruturais que acredita ser a correta e por contar com uma base congressual mais sólida. Além disso, Dilma está posta dentro do pólo progressista da América Latina, que desde a eleição de Hugo Chaves e Lula vem se concretizando na América Latina, em especial na América do Sul, com um projeto de integração regional e antiimperialista.
Por estes motivos apresentados, de um contexto geral, sem falar dos avanços setoriais do Governo Lula e do projeto de Dilma para cada um deles, é que confio que a Presidenta Dilma possa realizar um mandato tão bem sucedido quanto o do Presidente Lula, sendo mesmo uma continuidade deste trabalho, respaldada pela sociedade brasileira que pela primeira vez na democracia republicana brasileira, aceitou a indicação de um presidente para sua sucessão.


Por José de Paula Santo - Membro da JPT do Vale do Paraíba