Futebol e Juventude

Por muito tempo a Copa do Mundo foi um momento contraditório para a militância de esquerda. O camarada ficava dividido entre o coração e a razão: a cada jogo, cada vitória da Seleção, o coração arrebatava o político, o transformava em torcedor. A verdade é que a razão nunca venceu esta batalha. E a relação entre política e futebol nunca foi comprovada, ninguém hoje ousa afirmar que a Ditadura Militar durou mais por causa do tricampeonato em 1970. O fato desta relação ser falsa não significa que devemos nos entregar à paixão e não realizar nenhuma reflexão sobre o futebol na nossa sociedade. A Copa do Mundo é um negócio que movimenta bilhões de dólares, e o velho esporte bretão também faz circular uma grande quantidade de dinheiro em nosso país.
Esta exuberância financeira motiva o sonho de milhares de jovens brasileiros. A meta de se tornar um jogador de futebol profissional, de entrar em um grande clube do Brasil e a partir daí conseguir uma transferência para a Europa mobiliza parcela significativa da nossa juventude, que concentra suas energias em testes, peneiras, escolinhas, migrando dos seus Estados de origem em busca de melhores oportunidades, etc.
Esses jovens vêm sendo chamado de “pés de obra” pelos estudos acadêmicos e jornalísticos que analisam esta situação criticamente. Contudo, a imagem projetada pela grande mídia e que impregna a mente das crianças e adolescentes brasileiros é o paraíso dos grandes jogos e gols bonitos, dos melhores craques que conquistam tudo o que desejam apenas porque possuem talento com a bola no pé.
Novamente, estabelece-se uma relação difícil para o cidadão ativo, crítico, que luta por um Brasil cada vez mais justo e democrático. Não pode fechar os olhos para essa situação que causa sofrimento para a maioria dos jovens que embarca nesta aventura, pois obviamente não há lugar para todo mundo no eldorado do futebol brasileiro e internacional.

Contudo, não pode simplesmente adotar uma posição irrealista e de mera denuncia da mercantilização do futebol, uma postura até reacionária se desembocar em uma idealização do “futebol de antigamente”.
O futebol faz parte da cultura do povo brasileiro. Como tal, acompanha o desenvolvimento da nossa sociedade, no que isso tem de positivo e de negativo. Esse aspecto da mercantilização é correlato com o processo de crescimento econômico que o país vive nos últimos anos, e tem dimensões negativas e positivas.
Se por um lado busca a lucrativade, por outra democratiza o acesso, pois uma maior organização de todo o futebol pode garantir melhores condições para os jovens que não conseguem um lugar nos grandes clubes do Brasil. Um exemplo disso são os diversos clubes médios e pequenos que fornecem escola e assistência médica para os meninos que estão treinando em suas dependências.
Assim como a esquerda luta para que o crescimento econômico seja sustentável, gere empregos, distribua renda, não agrida o meio ambiente, deve lutar também para que a profissionalização do futebol não tenha apenas a dimensão mercadológica, que gera lucros para empresários que intermediam a compra e venda de jovens jogadores ao mesmo tempo que causa sofrimento para a maior parte desta juventude transformada em mercadoria.
Uma das maneiras de fazer isso está exatamente no desenvolvimento econômico do país, na medida em que este crescimento gera oportunidades de vida para a juventude brasileira. E nesse ponto o Governo Lula tem sido bastante exitoso, pois com a expansão das escolas técnicas e das universidades, com políticas públicas como o projovem e o prouni, muitos jovens podem elaborar projetos de vida outros que não se tornar jogador de futebol. O jovem brasileiro hoje sonha com outras possibilidades.
Outra perspectiva é com as próprias políticas públicas voltadas para o Esporte, e que visam estimular a prática esportiva com a inclusão social e a promoção da cidadania. Isso significa que o Estado não vai deixar os meninos e meninas do Brasil ao Deus dará, sozinhos diante da lei da selva que é a disputa para se tornar jogador de futebol profissional. Também neste ponto o governo do presidente Lula vem sendo bem sucedido, com programas como a Praça da Juventude ou o segundo tempo, que dão condições desses meninos separarem lazer e perspectiva de mobilidade social.
Por fim, cabe a sociedade civil não esperar que o Estado faça tudo nesse quesito. O futebol se tornou parte da vida do Brasil sem nenhum tipo de política oficial ou estatal, mas sim porque foi conquistando o coração do povo brasileiro. Para que essa relação entre a bola e o brasileiro continue positiva, rica, trazendo diversas alegrias para as pessoas, é preciso que quem gosta do esporte se organize para garantir que a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas do Rio de Janeiro de 2016 sejam as melhores da história, deixando um legado para o país em todos os sentidos, tanto na infra-estrutura e no desenvolvimento econômico e social quanto no âmbito esportivo. Não podemos tolerar o desperdício de dinheiro público que marcou a gestão que a prefeitura do Rio, governada pelo DEM, no Pan-americano de 2007, que só aconteceu porque o governo federal assumiu sua organização.
Mas antes, vamos aproveitar este mês para torcer, para celebrar o espetáculo que é futebol, na esperança de que grandes lances e gols aconteçam e que novos mitos do futebol sejam forjados nesta Copa do Mundo! Ah, e rumo ao Hexa!!!

Josué Medeiros é historiador e mestrando do IUPERJ

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